quarta-feira, 2 de março de 2011

O Gato Tomás

Quando a Rita fez 8 anos, a vizinha do lado, cuja gata tivera uma ninhada de filhotes, ofereceu-lhe um lindo gatinho. Todo preto, de belos olhos azuis e uma barbela amarela que lhe ficava a matar.
Era preciso dar-lhe um nome e a Rita nem hesitou:
- Tem de chamar-se Tomás. Não acham que tem mesmo cara de Tomás?
E todos acharam. Tomás depressa se tornou o melhor amigo da Rita, companheiro de todas as brincadeiras e dono de todas as atenções. Rebolavam ambos pelo chão, trepavam às árvores do jardim.
Era ela que lhe enchia o prato com leitinho, que ele bebia deliciado. E, quando chegava o dia do banho, aí estava a Rita, de shampoo na mão, para ajudar a mãe a transforma-lo num gato limpinho e bem cheiroso.
Depois… havia os miminhos. Sempre que a Rita via televisão, o Tomás saltava-lhe para o colo e ronronava, consolado, com as carícias que ela lhe não regateava.
E, na hora de ir para cama, lá tínhamos o Tomás a aquecer os pés à sua dona, ficando ambos a dormir na paz dos anjos.
Tudo corria no melhor dos mundos. O Tomás crescia e estava cada vez mais bonito.
Mas… há sempre um mas, não é?
Numa sexta-feira à tarde, depois de ter feito os trabalhos de casa, a Rita decidiu ir brincar para o quintal.
- Tomás, anda comigo!
E o Tomás desatou a correr para a porta da cozinha, na expectativa das brincadeiras habituais. A Rita pegou nele e sentou-se no baloiço. Mas o Tomás não parava quieto e acabou por se atirar ao chão. De imediato, correu para o fundo do quintal e só parou no cantinho ao pé do tanque.
- Vem cá, Tomás! – gritou a Rita.
Como ele não obedeceu, foi ela ver o que se passava. E o que se passava é que, muito encostado ao canto, estava um gatinho pequenino, muito magro e cheio de medo.
- Coitadinho! Temos de cuidar dele, Tomás.
E a Rita, com todo o cuidado e delicadeza, pegou no pobre gato amedrontado.
- Mãe, olhe o que encontrámos no quintal!
- Deixa ver! É uma gatinha. Parece ter sido vítima de maus tratos. Deve ter sido abandonada.
- Posso ficar com ela, mãe?
- Não estava nos meus planos, mas… Está bem. Vais ter de lhe dar muito carinho para ela confiar em ti.
- Então, podemos dar-lhe um banho e, depois, eu arranjo-lhe o leite. Ah! E vou chamar-lhe Micas.
Os dias foram passando, a Micas estava com melhor aspecto mas escondia-se e parecia sempre triste. O Tomás mirava-a de longe e sentia pena. Um dia resolveu fazer-lhe uma surpresa: Foi até à rua, entrou na Pastelaria Luar e roubou uma bola de Berlim. Talvez o bolo alegre um pouco a Micas, pensou.
Ela fez um esforço e lá debicou o creme. Era doce e bom, mas a tristeza continuou.
Tomás sentiu-se desiludido. O que podia fazer para alegrar e dar vida à Micas? Nada resultava, nem o pastel nem os cuidados da Rita.
Andou dias a matutar e cada vez se sentia mais macambúzio. A Micas não lhe saía da cabeça. As brincadeiras com a Rita já não eram tão divertidas. Pois se a Micas não brincava com eles!...
Um dia, estando deitado ao sol no jardim, reparou numa rosa amarela, muito linda, ainda com uma gotinha de orvalho.
- Vou levá-la à Micas. Acho que ela vai gostar.
Com muita dificuldade, cortou o caule com os dentes e desatou a correr para junto da Micas. Deixou a flor cair ao pé dela. Ela olhou, pareceu surpreendida, e deixou deslizar uma lágrima. Pensou: O Tomás gosta de mim. E, quase sem querer, esticou a patita e fez uma carícia na pata do Tomás, que não coube em si de contente.
A partir daí, acabaram-se as tristezas. A Rita ficou feliz e tudo regressou ao melhor dos mundos. Só que agora, em vez de dois, eram três amigos a correr e a saltar e a darem miminhos uns aos outros.
A Rita, para comemorar, até lhes tirou uma fotografia!... Não estão lindos?

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